“Se o processo penal é um palco onde o acusado brilha, esse tablado é construído com o sangue, os ossos e as lágrimas das vítimas e seus familiares. E, embora gigantesco, ninguém lhe presta atenção. (…) Ninguém lhes pergunta se precisam de algo(…)”. Trecho de um artigo que 1/10
A chamada está errada: não há peso algum no sobrenome. Ele sofre as consequências do homicídio dos seus pais praticado por sua irmã. Poderia chamar Silva que o resultado seria igual. Sujo, ferido, sozinho, confuso, alienado. Uma alma sem cura, como tantas outras vítimas. 3/10
Suzane, sua irmã, teve a pena reduzida para 34a e 4m, da qual cumpriu uma fração. Foi para o regime semi-aberto em 2015, e agora está no regime aberto. Recentemente fechou contrato com uma produtora. 4/10

Enquanto Andreas, uma vítima, foi incapaz de se recuperar das consequências do homicídio da mãe e do pai praticado pela irmã e pelo melhor amigo, a criminosa segue vivendo, celebrando contratos para série e documentário, sem aparentar sofrer como o seu irmão. E sabe o pior? 5/10
Ninguém liga. Há muitos Andreas por aí, vítimas de crimes que jamais se recuperarão e seguem perdidas, enquanto os criminosos não demonstram qqer crise de consciência, qdo não reincidem na prática criminosa, índice alto no Brasil. Lembrei de um caso, e adianto que nada sei 6/10
da veracidade do depoimento, apenas o replico. Pai teria abusado das filhas dos 7 aos 15. A mãe descobriu e o matou com a ajuda de 2 parentes. Colhi o testemunho das filhas já maiores. A mais nova mal falava e não olhava no rosto. A mais velha narrou os detalhes. Os abusos 7/10
repetidos, as ameaças de morte caso contassem a alguém, a indignidade, o desamparo. Durante o depoimento, traía o semblante duro as lágrimas que escorriam por seu rosto. Não era choro convulsivo. Embora controlasse o rosto, não conseguia conter as lágrimas. Cena terrível. 8/10
Perguntada pq não procurara as autoridades, disse “a gente é pobre, dr, quem ia escutar?”. Que estavam à margem do estado era verdade, pq até então não tiveram atendimento médico/psicológico. Se houve o estupro, não sei. Homicídio houve, talvez a provar o malefício que é a 9/10
ausência do estado. É inevitável que a vítima sofra perpetuamente pelo crime, o que é evitável é que o criminoso se regozije e lucre com isso. A sociedade deve condenar o crime moralmente, o que não ocorre. Não há justiça no mundo que não aquela que depende da humanidade. 10/10
Fique claro que sou avesso ao uso arbitrário das próprias razões, execução ou o que seja. Destaco apenas a importância do direito penal pelo foco tbm da vítima e da sociedade, não exclusivamente do réu/condenado, e a relevância da sociedade no aspecto extrapenal. +
Já escrevi a respeito que o perdão não é direito. A pena é uma previsão legal e ninguém será legalmente sancionado para além disso, mas o perdão está no âmbito exclusivo do ofendido, assim como a sociedade pode rejeitar moralmente certas condutas. Não existe o dever de perdoar.